António Alves de Sousa, escultor português,renasce aqui, 125 anos depois

quarta-feira, 11 de março de 2009

Os meus porquês

O tempo corre sobre o seu leito a uma velocidade estonteante e as memórias vão-se perdendo com a morte dos que as guardavam consigo. As memórias da vida curta mas fantástica do meu bisavô. Faleceram todos os escultores que executaram a sua obra prima no Monumento aos Heróis das Guerras Peninsulares, faleceram as filhas e o genro daquele que foi seu mestre, amigo e companheiro de e por excelência, o Arquitecto Marques da Silva. Faleceu o seu filho, meu avô, Caius Marius António Alves de Sousa, comerciante de boa memória na Rua Chã, Porto, de tabaco, instrumentos musicais e miudezas várias. Foi este meu avô, numa tarde de Outono de 1986, em Francelos, que, sabendo da minha queda para a escrita, me disse que, quando se reformasse, gostava de se sentar comigo e contar o que a sua memória ainda retinha da história tão fantástica quanto dramática do meu bisavô escultor. Falava, claro, daqueles ínfimos pormenores que são preciosos a um escritor. Fez-me prometer que lhe daria o meu tempo e a minha arte para escrever a história do escultor Alves de Sousa. Eu era novinho e não tinha bem a noção da preciosidade que me era oferecida, nem a ideia, hoje inequívoca, de que o meu avô nunca se reformaria, e havia de morrer trabalhando, como aliás aconteceu, quando em Maio de 1993 rendeu a vida no final de um dia de trabalho. Nunca nos encontrámos, claro, e temo que muitos pormenores estejam irremediavalmente perdidos. Anima-me o facto de muitas das história que vão passando de boca em boca na minha família precisarem de confirmação factual, e por isso de um trabalho verdadeiramente científico. Não estarei à altura de tal rigor, mas move-me o sangue e a carência física do pedaço que o meu bisavô representa em mim. Sinto-me cada vez mais descompensado por saber muito pouco, e por vê-lo ignorado pelos poderes públicos à medida que os séculos vão virando. Vou morrer neste século, pelo que não posso permitir que os meus descendentes virem para outro sem que o meu bisavô tenha um lugar de honra na história do país que (não) o acarinhou, e que ele objectivamente merece. Urge trabalhar muito e urge trabalhar já. Sinto uma pulsão que, esotu certo, me levará aos mesmos pormenores que o meu avô me queria franquear, ainda que por outras portas. Fascina-me contar a história de uma vida única e do seu amor pela bisavó Germaine Lechartier, uma francesa que ele arrebatou, ou que o arrebatou a ele, no 14º bairro de Paris. Publicitar este esforço é o primeiro passo para que, doravante, tudo o que seja colhido fique pertença de todos.Um Bem haja a todos os que ajudarem a manter o escultor Alves de Sousa vivo.

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